22 de novembro de 2023

Guerra e Graça


Um homem que há gerações vivia exilado, decidiu voltar para casa de seus antepassados. Havia motivos para isso e um grande grupo de pessoas influentes o apoiou. Mas... tinha gente morando na casa.

Para voltar havia duas opções: morar junto com quem estava lá, ou expulsar todo mundo e tomar posse do lugar. Ele escolheu a segunda opção e, com o apoio de muita gente importante, ocupou a casa e forçou os que moravam lá a aceitarem um acordo: viveriam nas cabanas que havia no quintal. E assim foi feito, não sem revolta, não sem reclamação daqueles que tiveram que trocar a casa pelas cabanas. 

Acontece que no quintal, além das cabanas, havia também um pomar, frutas, grama e espaço e o povo do casarão começou a cobiçar as cabanas e suas terras. E juntaram um grande grupo armado e, passando por cima do acordo, de forma violenta, atacaram e invadiram as cabanas e puseram todo mundo pra correr. E sugeriram que os expulsos fossem viver em tendas, num areal que havia ao lado do pomar. Acontece que um dos expulsos resolveu vingar-se. Ele queria um lugar na casa, o direito de viver ali, de comer as frutas do pomar, afinal, sua família vivia ali há gerações. Era a casa dele. E, na calada da noite, ele invadiu o casarão e matou o filho do homem que o expulsara. 

Os moradores do casarão ficaram horrorizados. Aquilo não podia ter acontecido e, agora, sentiam-se no direito de retribuir a violência para mostrar sua força e impedir que outros atos semelhantes acontecessem. Organizaram então um grande grupo e foram até o areal e mataram todos os filhos do assassino. Em seguida, mataram a esposa do assassino. Mataram também os pais e os netos e os genros e noras do assassino. E depois saíram de tenda em tenda, matando a vizinhança toda do assassino. E enquanto matavam, com as mãos e o rosto encharcados de sangue inocente, gritavam: é nosso direito de resposta!

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Não dá pra ser cristão e apoiar Israel.
Me desculpem, mas não dá. 

Ser cristão é estar do lado dos oprimidos (Lc 4.19) e, em Gaza, os oprimidos são os Palestinos, e o são há décadas. Não adianta berrar os horrores do ataque do Hamas. Todo mundo sabe desses horrores e todo mundo os condena. Mas um horror não justifica horror pior. 

Sobre o Hamas, duas coisas precisam ser consideradas. Primeiro, o óbvio - o Hamas e o povo palestino não são a mesma coisa. Não são. Penalizar o povo - e penalizar com morte, com extermínio - pelo que fez o Hamas é cruel, é desumano, é criminoso, é racista, é abjeto, é nojento, é pecado, é terrorismo de Estado. Segundo, o Hamas não começou, como muitos querem fazer crer. O que o Hamas fez foi uma reação a décadas de violência, opressão e extermínio praticados por Israel. 

Quando o Estado de Israel foi criado, com o final da segunda guerra, um acordo foi feito sobre a ocupação da área. Um acordo violento, empurrado goela abaixo dos palestinos, mas nem isso Israel cumpriu. Por várias vezes Israel rompeu o acordo e expandiu seus limites territoriais e, cada vez que o fez, o fez de forma violenta, criminosa, opressora, preconceituosa, racista, menosprezando um povo, colocando-se como superior, estabelecendo uma horrorosa política de apartheid. 

O Estado de Israel não é a Israel de Deus dos textos bíblicos. A Israel de Deus acolhia o estrangeiro. O estado de Israel expulsa o morador para tomar para si a terra dele, passando por cima de acordos e cometendo crimes de guerra. Um não tem nada a ver com o outro.

Quando o Hamas ataca, é uma reação, não uma ação. Uma reação a décadas de violência invisibilizada. Uma reação horrível, terrorista, criminosa, mas uma reação. O Hamas não começou e, em último caso, nem importa quem começou. Essa conversa de quem começou uma briga é papo de briga de irmãos de 5 anos de idade.

Por fim, vale frisar que a consequência dessa guerra não será a paz. A consequência será mais rancor, mais raiva, mas desejo de vingança e o fortalecimento dos grupos extremistas porque é disso que se alimentam - rancor, raiva, vingança.

É pra romper com esse ciclo que os profetas de Israel clamavam por misericórdia ao invés de sacrifício. É pra romper com esse ciclo que Jesus disse que veio para estar do lado dos oprimidos e "apregoar o ano de Graça do Senhor" (Lc 4.19). Só a graça vence o ódio.

Não dá pra ser cristão e estar do lado de Israel. Não dá.


Foto: Ashraf Amra – Anadolu Agency

12 de agosto de 2023

Jesus, os oprimidos e os LGBT+


O evento era essencialmente contra a LGBTfobia, mas também contra todo tipo de violência social, por um mundo mais tolerante e diverso. Foi bonito, foi pacífico, foi festivo. Estávamos lá como Coletivo O Amor Vence, um coletivo cristão progressista. Estávamos lá também porque de alguma forma fomos o estopim de tudo. Quando, algumas semanas atrás, nos dispusemos a participar do Piquenique das Mães do Amor, a nossa presença foi, possivelmente, fator importantíssimo para a revolta insana de religiosos fundamentalistas ultraconservadores produzindo e distribuindo folhetos que enviavam os LGBTs todos ao inferno, nomeando-os de "filhes do diabo" e a mim de "falso profeta".

Na manifestação do dia 5, falei de novo. Um pedaço do que disse tá no vídeo desse post. O texto todo, resumido, está abaixo:

Estar na manifestação me remeteu a estar numa das muvucas criadas pelo amontoado de gente em torno de Jesus na Palestina de 2 mil anos atrás. Porque, lá como cá, o povo que se reuniu era gente periférica, vítima de injustiça, de violência, de intolerância, de preconceito. Por isso na sua primeira fala pública Jesus deixa claro a que veio e para quem veio, citando Isaías: “dar liberdade aos oprimidos e anunciar o tempo da graça”. Dar liberdade aos oprimidos não combina com condená-los ao inferno. 

Mas nem só de oprimidos se faz uma multidão. Havia também, lá como cá, os religiosos carolas, fundamentalistas, legalistas, moralistas, que do meio da multidão observavam atentos não suportando o clamor por libertação. Queriam manter as correntes firmes. Lá como cá, eram gente disposta a escrever folhetos condenando os oprimidos ao inferno. Os de lá mataram Jesus. Os de cá o matariam se pudessem.

Eram, portanto, dois grupos os que compunham a multidão. Jesus falava com ambos. Quando falava aos religiosos, usava palavras como “ai de vocês, mentirosos, impostores, falsos, hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados (bonitinhos por fora, por dentro podres)”. E não tinha muito mais a dizer-lhes. Quando falava com os oprimidos, dizia coisas como “felizes são vocês que choram, porque serão consolados! Felizes vocês que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem aventurados vocês que são perseguidos por causa da justiça (por lutarem por um mundo mais justo), porque é de vocês o Reino dos Céus”. Porque o Reino do Céu só pode nascer num ambiente assim, de gente que se junta em busca de um mundo mais justo para todos. No outro lado, o de gente que se acha especial e que busca um mundo melhor pra si onde não existe espaço pra quem é diferente, não há possibilidade de Reino de Deus.

Aprendi, anos atrás, que a igreja sinalizava o Reino. Descobri, mais recentemente, que o Reino é que sinaliza a Igreja. Onde há manifestação do Reino, ali está a igreja. Onde há manifestação de raiva, de condenação, de preconceito, de supremacismo, ali há trevas, e que trevas profundas são.

"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" Lucas 4:18,19




'Mãe'nifestação pela diversidade. Blumenau 5/8/23.

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Mais sobre o assunto aqui e aqui.

7 de agosto de 2023

Jesus e os LGBT+




O nome do piquenique era: Jesus é amor. Quem estava promovendo era a ONG Mães do Amor, formada por mães de pessoas LGBT+ que querem e lutam por um mundo onde seus filhos sejam aceitos como são.

Jesus é amor. Pessoas devem ser aceitas como são. É simples.

Mas o local do evento foi infestado de folhetos religiosos LGBTfóbicos, com versículos usados para destilar ódio e preconceito por gente que conheceu uma religião, mas não sabe quem é Jesus. No folheto, os filhos das Mães do Amor são chamados de "filhes do diabo". Há ainda uma menção honrosa ao falso profeta que estaria no evento.

O folheto foi só a primeira violência. Houve outras. Teve pressão da prefeitura para desmontar o piquenique: "tirar tudo que for LGBT do parque" foram as palavras usadas pelos funcionários do local, um parque público da cidade. Teve o policial que apareceu por lá ameaçando denunciar as Mães do Amor por preconceito religioso.

Apesar de tudo o evento aconteceu, e foi lindo. Eu me senti privilegiado por estar ali, abraçar e ser abraçado, dizer e ouvir de muitos que Jesus é amor. Eles sabem. A igreja é que esqueceu.

Próximo sábado, dia 5, @maesdoamor.diversidade estará promovendo um protesto contra LGBTfobia, racismo e fascismo. Motivos não faltam. A penúltima foto desse post explica melhor.

Estaremos lá.

O AMOR VENCE é um coletivo cristão e sabe que, tristemente, o pano de fundo das violências contra LGBTs (e o pano de fundo do neofascismo) é religioso e pseudo cristão.

Estaremos lá.
Porque O Amor Vence.
E Deus cura a LGBTfobia.

O Falso Profeta dizendo que Jesus é Amor 


A gente distribuindo uma recordação pras Mães do Amor e recebendo de volta... amor.



A recordação.


#oamorvence
#deuscuraahomofobia

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Conheça a ONG Mães do Amor:
@maesdoamor.diversidade

Saiba mais sobre fé cristã e LGBTfobia:
Deus Cura a LGBTfobia

21 de julho de 2023

Deus Cura a LGBTfobia

“Desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea” (Mc 10.5)


Tem texto bíblico pra tudo. Versículos pinçados aqui e ali podem justificar todo tipo de coisa. O texto bíblico já justificou a escravidão. Leituras tendenciosas, preconceituosas, concluíam que estava tudo bem escravizar pessoas de pele negra. Uma quantidade enorme de comportamentos já foi imposta aos devotos do cristianismo, uma quantidade enorme de imposições já foi revogada e outras tantas ressurgem aqui e ali eventualmente.

Está escrito!, é o argumento. É estranho, porque está escrito também: “toda a Lei se resume num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14). Ou ainda mais desafiador, saindo da boca de Jesus: “Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos” (Jo 13:34).

Amar como Jesus amou. Esse é o desafio. E é importante lembrar que o amor de Jesus abraçava pecadores e confrontava religiosos fundamentalistas ultraconservadores o tempo todo (no tempo de Jesus, chamados de fariseus). Que o amor de Jesus era “para pregar boas-novas aos pobres (...) proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4).

Mas há quem goste de lei. Há quem ame regras. Mas regras selecionadas, porque todas é demais. Uma das regras de estimação é a que deriva do que disse Jesus no versículo que abre esse textão: “Desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”. Está dito, só tem duas possibilidades, qualquer coisa fora disso é ‘abominação’.

Some-se a isso o que disse Paulo em Rm 1 ou em 1 Co 6. Está registrado lá. Afeminados e sodomitas não herdarão o Reino. Algumas traduções mencionam tb homossexuais, mas é uma tradução forçada e preconceituosa, que apareceu pela primeira vez em uma versão estadunidense da década de 1950 e foi, na edição seguinte da mesma versão, retirada por ter sido considerada uma deturpação do grego. Nem malakoi (traduzido na maioria das vezes como efeminados) nem arsenokoitai (majoritariamente traduzido como sodomitas) referem-se a homossexuais ou LGBTQIAP+, especialmente porque as letras da sigla mencionada revelam uma condição humana, não ações humanas. 

A escolha do uso de efeminados pelos tradutores antigos tinha a ver com alguém com fraqueza de caráter, que é o que se pensava da mulher naqueles tempos remotos, que, diga-se de passagem, é um outro preconceito. Sodomita era alguém devasso, participante de bacanais e cultos intermediados pelo sexo na cultura romanizada, que usava o sexo como instrumento de poder, dominação, manipulação, etc.

Mas não é só isso. Malakoi e arsenokoitai são somente dois exemplos de quem não herdará o Reino. Há muito mais. Mentirosos, injustos, homicidas, avarentos, invejosos, enganadores, soberbos, presunçosos, desobedientes aos pais, tímidos, sem misericórdia… e mais um monte. Se alguém está se sentindo incólume até aqui, é importante lembrar das palavras de Jesus: "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Tolo’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno” (Mt 5.21, 22).

E agora, que faremos? Se você ainda não está apavorado, peço que repare em “tímidos”. Ou leia “homicidas” lá em cima e compare com “qualquer que se irar contra seu irmão”.

O propósito óbvio dessa lista não é compilar os que estarão fora do Reino, mas evidenciar o fato de que ninguém, absolutamente ninguém herdará o Reino por mérito próprio. "Não há nenhum justo, nem um sequer” nos ensina o mesmo Paulo que escreveu a lista dos pecadores acima. “Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo de Deus. Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência à lei”. A lista condena todo mundo. Todo mundo. A salvação não está em estar fora da lista, porque ninguém está - a salvação está na graça, favor imerecido. Se estamos salvos de condenação é porque fomos “justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Rm3).

Mas se você ainda está obstinado em condenar ao inferno a comunidade LGBTQIAP+ porque Jesus disse que há somente homem e mulher, quero lhe apresentar outra frase que saiu da boca de Jesus: “Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o” (Mt 19:11-12).

Eunuco, literalmente, era o cara que servia o harém. Subjetivamente, era um homem sem interesse por mulheres, ou alguém não hétero (lembre-se que a ideia contemporânea de homossexualidade não existia na época de Jesus, nem, obviamente, a expressão LGBTQIAP+, mas as pessoas com essas condições humanas existiam). Jesus elenca três tipos de eunucos: literalmente castrados por homens (para servir o harém), castrados com algum tipo de voto de celibato (por causa do reino do céu) e nascidos do ventre da mãe. Ora, o que se propõe aqui é que além de homens e mulheres, temos uma outra possibilidade. Jesus está falando o óbvio, porque sempre existiu gente assim, com uma sexualidade não heteronormativa. É a simples e objetiva constatação da realidade, como disse Silvio Almeida no discurso de posse no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania: “vocês existem e são importantes para nós”. O que disse Silvio Almeida, a igreja ainda não tem coragem de dizer. Ou a parte fundamentalista e moralista da igreja, que, infelizmente, é a barulhenta maioria, ainda não tem coragem de dizer.

Mas sabe uma coisa que a igreja fundamentalista, moralista e barulhenta diz? Ela diz o Salmo 139, e o diz com muito orgulho: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas!” (Sl 139).

Se “há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe”, não foram eles igualmente criados e tecidos de modo especial e admirável? Não são igualmente obras maravilhosas das mãos de um Deus que é amor? Algum cristão teria coragem de dizer que esses eunucos foram criados no ventre da mãe por demônios ou coisa parecida? Se são obras das mãos de Deus, teria Ele os feito para que fossem agredidos, calados, silenciados, convidados a anularem-se, a não serem quem foram feitos? Se foram feitos assim, não seriam naturalmente assim? Se assim são naturalmente, forçá-los a não serem o que são não seria contrariar a natureza, contrariar a criação, contrariar, portanto, o autor da criação?

Há quem diga que aceita a homossexualidade desde que anulada, afogada, represada, não praticada. O cara se esquece que a sexualidade humana é fisiológica! Não se anula ela assim num passe de mágica. Jesus cita três personagens distintos: o que foi feito pelo homem, o que se faz pelo reino, o que foi feito no ventre da mãe. São três personagens diferentes. Não há condenação sobre nenhum deles. Os três são naturalmente mencionados e naturalmente aceitos. Porque não se muda o que se é, como bem frisou Jeremias: “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?” (Jr 13).

No início dos Atos dos Apóstolos, Filipe é colocado diante de um eunuco. Depois de ouvir sobre o amor de Jesus, perdão, reconciliação, graça, acolhimento, etc, fortemente tocado, quebrantado, maravilhado, enternecido, emocionado, o eunuco pergunta: "O que me impede de ser batizado?". A resposta é simples e direta: "Nada o impede".

Nada impede! Nem ao eunuco do harém, nem ao eunuco do reino, nem ao eunuco do ventre da mãe. Não há impedimento algum. Não há discurso moralista algum. Não há condenação alguma. É claro que não, porque somos todos “feitos de modo especial e admirável”, somos todos “obras maravilhosas” das mãos de Deus.

A porta de entrada do Reino é o amor. Aos que amam se dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

Porque #OAmorVence

#OAmorVenceSC
#OAmorVenceSempre


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Para mais conteúdo, referências bíblicas, argumentos científicos e teológicos, leia Homossexualidade: da sombra da lei à luza da graça , de Hermes Fernandes.

Ou assista nossa entrevista para a Rádio Itaberá sobre Coletivo O Amor Vence, em Blumenau, por ocasião da participação do grupo como convidado no Piquenique da ONG Mães do Amor em Defesa da Diversidade, ONG criada para acolher mães, pais e famílias de comunidade LGBTQIAP+, em Blumenau. 

5 de fevereiro de 2023

Oração ao Eterno


Para ler e/ou ouvir.


Comove ouvir as ondas lambendo as areias
Céu branco da madrugada azulando imponente
O sol sorrateiro espiando o acordar da praia
Que descuidada e lenta espreguiça inocente

Chegou mais um dia
Gritou alguém
Amanhã mais um
Depois também

Porquê ainda comove a eterna rotina?
Que mistério é esse do encantamento?
O que haverá por trás do cotidiano
Que arranca beleza de dentro do eterno momento?

Não sei o que há
Gritou alguém
Mas é certo que há
Eu sei também 

Se a onda, a areia e o sol são sempre os mesmos
Se é azul, todo azul, sempre azul o céu que tu vês
Se a praia desperta de novo repetidamente
Porquê comove-nos tanto ver tudo outra vez?

É a saudade
Gritou alguém
Do instante perfeito
Que nos contém 

E o que nos revela a beleza daquele momento
É que o instante perfeito corrompe a dureza do tempo
Perfeita mistura do dia passado e presente
Converte em beleza aquilo que foi sofrimento

Me revela
Gritou alguém
Tamanha beleza
A mim também 

Se insisto (e insistimos todos) diariamente
Em rever, reviver, renascer, fazer tudo de novo
E se no exercício diário do refazimento
Encontramos de novo e de novo o encantamento

É que cremos
Gritou alguém
Que o instante é eterno
Pra sempre, amém

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Escrito na areia da praia de Cabeçudas, em janeiro de 2023. Era 6h da manhã, um homem chegou ao meu lado, olhou o sol nascendo e disse: chegou mais um dia!