5 de dezembro de 2011

Prenhe

O homem de Nazaré me foi apresentado como Filho de Deus. Ouvi as histórias sobre ele desde pequeno, e ainda muito novo brotou em mim uma convicção estranha e inexplicável de que era mesmo. Durante toda minha vida o segui mais ou menos de perto (às vezes bem de longe). O Filho de Deus! E essa característica singular era tão incrível que ofuscava todas as outras.

Eu já era um homem barbudo e pai de família quando percebi que aquele ser divino vinha aos poucos tornando-se homem diante de mim. Foi tardiamente que o conheci da forma mais usual com que referia-se a si mesmo: Filho do Homem. Fui descobrindo aos poucos que ele era carne acima de tudo. Que era sangue, suor, lágrimas, hálito. Que chorava, sofria, sentia-se indignado e enfurecido com a opressão e a hipocrisia dos religiosos, impaciente e incorformado com a apatia de seus amigos mais próximos, profundamente enternecido com corações sinceros mesmo que confusos em seus passos trôpegos. O poder do Filho de Deus diluiu-se na limitação do Filho do Homem.

Então chega dezembro e de repente me dou conta de que antes de tudo ele foi um bebê frágil e completamente dependente dos cuidados de gente como eu. Pais, avós, tios, vizinhos e amigos o embalaram, limparam, ensinaram a andar, falar, assobiar, plantar bananeira e dançar cantigas de roda. E me ocorre agora, que ainda antes de tudo, o Filho de Deus era um feto à espera da luz - e esse pensamento ao mesmo tempo me assusta e me enche de esperança de que em breve chegue o dia em que ele verdadeiramente nasça dentro de mim.


"Nasceu da virgem santa flor
A flor mais bela de um jardim
Que hoje floresce dentro em nós
Humilde amor" Fernando Guimarães

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