28 de agosto de 2012

Igreja. CBF ou pelada?

Tente imaginar o seguinte. Sujeito vai chegando devagar num descampado plano de terra, com uma bola embaixo do braço. Para no meio do campo, dá uma olhada geral, solta a bola, deixa bater seco no chão, enfia o pé por baixo, levanta a danada, dá uns toquinhos, se embanana todo e deixa ela rolar pra longe. Corre atrás, pisa firme na redonda, endireita a coluna e vasculha o horizonte de novo. Tem alguém vindo de lá. E mais três, do outro canto. Os olhos se revezam entre a bola e os que vêm chegando. Mais umas embaixadas até que o primeiro chegue perto o suficiente. Aí mete um passe longo, que é ao mesmo tempo a confirmação do convite e uma carta de boas vindas. Os outros três chegam e também recebem a bola no pé. Tocam um pro outro, se olham, se aproximam. Derrepende dois pares de chinelos já estão posicionados. Os times foram divididos. A bola já está rolando. Camisa contra sem camisa. E vai-se a tarde naquela correria. Entra mais um pra cada lado. Mais dois. Junta um time de fora. Dez minutos ou dois gols. Às vezes dá uma briga, um bate-boca, é claro. Mas na tarde seguinte estão todos lá de novo, no corre-corre de sempre, com um sorrisão estampado no rosto.

Agora imagine a CBF, a FIFA, as Federações. Pense nos cartolas, nas cotas de patrocínio, nos direitos de transmissão, na compra e venda de passes, nos grandes times, nos salários faraônicos. E pode ficar por aí. Não precisa nem considerar as picaretagens e os subornos. Fique só com a burocracia e os jogos simples de poder.

Ora. Futebol não é CBF nem FIFA. Futebol é pelada! Se a CBF deixar de existir, não estará, de forma alguma, decretado o desaparecimento do futebol da face desse planeta. Será o fim do grande negócio que envolve o esporte. Será a falência de um mercado milionário. Mas a gurizada que estiver batendo bola no campo de terra estará jogando futebol, como sempre. Aliás, como antigamente. Porque futebol é praticamente uma unanimidade planetária exatamente porque é um mercado milionário. Caso contrário teria uns e outros praticantes salpicados por aí, jogando por que gostam do jogo e nada mais, como os abnegados sofredores jogadores do Rugby nacional.

Percebe onde estou tentado chegar? Não estou aqui para iniciar um movimento contra a CBF, um motim para destruir a FIFA. Não. Quero é enaltecer a pelada, o pé no chão, a bola de couro surrada e os chinelos formando traves. Quero é dizer que futebol é gostoso, é divertido, é leve, é simples, é amizade, é comunhão. É partilhar uma mesma bola com quem quer que venha chegando.

Se dois ou três estiverem reunidos em torno da bola, ali haverá futebol, independente das determinações da FIFA.

0 comentários:

Postar um comentário